Monday, 28 April 2008

Capital Europeia da Cultura de 2012 vai custar tanto como a Casa da Música

in Jornal Público
27.04.2008, Victor Ferreira

Maior fatia do orçamento de 111 milhões de euros vai para a revitalização urbana, com destaque para um antigo bairro onde vai nascer uma nova "cidade de criação contemporânea"

Guimarães vai investir 70 milhões de euros em equipamentos novos e na renovação urbana, tendo em vista a organização da Capital Europeia da Cultura em 2012 (CEC 2012). A intenção é assumida no dossier de candidatura que a Câmara de Guimarães e o Governo apresentaram, há dias, em Bruxelas, e sobre o qual aquelas duas entidades têm mantido segredo. O PÚBLICO já consultou o dossier, de 140 páginas, tendo constatado que o orçamento global ultrapassa ligeiramente os 111 milhões de euros (mais 11 milhões que o custo da Casa da Música, feita para a Porto 2001), estando a maior fatia reservada para as obras que deverão fazer nascer uma nova cidade dentro e fora dos limites actuais de Guimarães.Na programação cultural, a organização conta investir 25 milhões de euros, repartidos pelo conjunto das "acções preparatórias" e de formação (no período 2008-2011), no programa da CEC 2012 propriamente dito (17,5 milhões) e pelas "acções de consolidação" no período pós-evento (os anos de 2013-2014).A gestão do evento será entregue a uma sociedade anónima de capitais maioritariamente públicos que vai ser constituída ainda este ano e que terá como núcleo fundador a autarquia vimaranense, a Universidade do Minho e o Estado. Esta entidade estará, no entanto, aberta à participação de entidades privadas, que deverão ser responsáveis por cinco a dez por cento do financiamento necessário para concretizar a CEC 2012. O grosso do financiamento (40 a 50 por cento) virá de fundos estruturais, assumindo a Câmara de Guimarães 10 a 20 por cento do orçamento e o Estado 25 a 35 por cento. Quanto ao programação cultural, ficará a cargo de um director artístico que ainda não está escolhido, facto que terá motivado um reparo do júri, durante a apresentação feita em Bruxelas. O Soho de GuimarãesMas um dos pilares da candidatura é uma grande intervenção urbanística que foi planeada com o objectivo de "transformar Guimarães numa cidade de criação contemporânea". A ideia central é renovar o tecido urbano, lançando as bases para a "reconversão industrial que urge fazer no Vale do Ave". A este nível, o destaque vai para a recuperação e revitalização do antigo bairro industrial de Couros, contíguo ao centro histórico classificado património mundial. Trata-se de uma área de 10 hectares (área equivalente a 14 campos de futebol ), onde se implantou a indústria dos curtumes e onde a organização da CEC 2012 pretende investir à volta de 30 milhões de euros. A premissa desta intervenção poderia ser traduzida assim: Nova Iorque tem o bairro de Soho, Paris tem Montmartre e Guimarães terá o bairro de Couros. Em quatro anos, deixará de ser um bairro abandonado e atravessado por um ribeiro conspurcado para se transformar numa espécie de "cluster artístico e cultural". O projecto inclui a reabilitação dos principais edifícios representativos da industrialização, para neles instalar ateliês, residências artísticas temporárias e actividades económicas ligadas à criação artística. Noutras paragens, serão criados laboratórios criativos e um outro equipamento, o Laboratório da Paisagem, a construir junto ao futuro parque urbano da Veiga de Creixomil. Está ainda previsto um novo centro de artes, que albergará a colecção José de Guimarães actualmente guardada numa sala do Paço dos Duques de Bragança, um museu baptizado Casa da Memória, a expansão da biblioteca e dos museus de Alberto Sampaio e de Martins Sarmento e a requalificação da envolvente ao castelo e ao Paço dos Duques, bem como do centro citadino.O júri que avalia a candidatura de Guimarães deverá pronunciar-se dentro de quatro a seis semanas, embora esteja já garantida a organização da CEC 2012 na cidade que viu nascer Portugal.

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